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“Casa Grande” da Parnaíba – Casa de Domingos Dias da Silva, pai de Simplício Dias

A Prefeitura Municipal de Parnaíba desapropriou a Casa Grande Simplício Dias na segunda gestão do prefeito José Hamilton, por meio do decreto municipal nº 701/2007, declarando-o de utilidade pública, no dia 28 de Fevereiro de 2008. No processo de desapropriação a Prefeitura de Parnaíba pagou aos antigos proprietários o valor de R$ 98.388,16, oriundo dos recursos próprios do município.

A Casa Grande, como é conhecida, foi residência de Simplício Dias da Silva, um dos mais importantes vultos da história do município, por ter liderado a expansão económica de Parnaíba no ciclo da charqueada, no século XVII, e participado activamente do movimento pela inclusão do Piauí e outros Estados no processo de Independência do Brasil, entre outras lutas. Era filho do Português Domingos Dias da Silva, um dos primeiros desbravadores da região, e foi também o principal donatário para a construção da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Graça, na Praça da Graça.

Capela do Santíssimo Sacramento na Igreja Catedral de Nossa Senhora da Graça, em Parnaíba, de uso exclusivo dos Dias da Silva, onde a família contava com pároco particular, e lápide que cobre o túmulo de Domingos Dias da Silva, no interior desta capela.

Simplício Dias da Silva passou a ser um verdadeiro irmão defensor das grandes causas e um Maçom de relevo. Ao concluir a decoração da sua capela particular do Santíssimo Sacramento, na igreja de Nossa Senhora Mãe da Divina Graça, deixou impresso símbolos maçónicos, em conjuntos azulejares, em esculturas de madeira, lápides de mármore, e luminárias de ferro.

Azulejos da capela do Santíssimo Sacramento. No primeiro conjunto, o pelicano rasga o peito para com o próprio sangue alimentar os filhos, lema maçónico, onde um irmão deve ajudar a um necessitado, símbolo da caridade e do sacrifício. Ao lado, o cordeiro montado em cima do Livro dos Regimentos Gerais com as suas medalhas na borda representando as sete virtudes, onde entra o valor à liberdade e o amor fraternal, pedras angulares da confraria. As sete medalhas também representam as sete artes liberais, ou sete ciências: gramática, retórica, lógica, aritmética, geometria, astronomia e música. Esta última arte liberal, muito provavelmente, influenciou Simplício Dias da Silva na criação da sua banda musical composta por escravos educados em Lisboa e Rio de Janeiro. O cordeiro é símbolo da paz e dos franco-maçons; e a cruz expressa imortalidade, fé e santidade.

O pé de trigo com as suas espigas é símbolo do trabalho, da eterna criação, produz o pão, a pedra bruta.  A uva produz o vinho, a pólvora vermelha, bebida para a saudação, prescrita no banquete ritualístico. Durante as reuniões secretas em prol da Independência do Brasil, nas lojas maçónicas brasileiras, o pão de trigo e o vinho de uva, símbolos que remetiam a Metrópole portuguesa, foram substituídos pelo pão de mandioca e a aguardente de cana-de-açúcar, homenagem ao Brasil.

Agni, a chama do fogo eterno do conhecimento supremo, a centelha divina, o fogo do sacrifício, sinónimo de purificação, dissipador das impurezas; e a colmeia simbolizando o doce trabalho e a união pela causa comum, símbolo de operosidade e solidariedade nas cerimónias maçónicas.

Lápide do irmão Coronel João José de Salles, benemérito do Correio da Vila de São João da Parnahiba, criado em 1815, com a participação de irmãos como, Simplício Dias da Silva e Domingos José Martins, este chefe da Revolução Pernambucana de 1817, ao lado de Frei Caneca. O Correio ligava, no maior sigilo, os irmãos parnaibanos, aos irmãos do Ceará, e, por conseguinte, aos de Pernambuco. A lápide mostra a figura de uma romã e a escultura, em pedra de Lioz, do oroboros; o primeiro representa a união simbolizada pelas suas sementes, e o segundo a eternidade, o ciclo da evolução, mas também relacionado com a alquimia. No epitáfio: respeito e amor filial. Na Catedral de Nossa Senhora Mãe da Divina Graça, templo católico em Parnaíba, Piauí, protegido pelo Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional – IPHAN.   

Simplício Dias da Silva, irmão Maçom usando o nome simbólico de Filósofo Pensador, em respeito ao trabalho dos iluministas franceses. Óleo sobre tela pertencente a Maria Helena Aquino de Seixas.

“Esta página tem por objectivos mostrar aos nossos ilustres visitantes alguns dos homens mais importantes da Maçonaria, os quais de alguma maneira marcaram época. Homens que nunca conhecemos pessoalmente, mas que inexoravelmente fazem parte de livros de História, cujos exemplos nos levam à reflexão de que sempre nos devemos lembrar daqueles que, antes de nós, foram iniciados nos Augustos Mistérios da Arte Real e, com a sua bravura, fizeram dela uma instituição digna de orgulho de todos os homens livres e de bons costumes”.

Com estas palavras, o site da Loja Fraternidade Serrana Nº 57 faz a sua introdução para apresentação de ilustres maçons brasileiros como: Hipólito José da Costa, José Bonifácio de Andrade e Silva, Joaquim de Gonçalves Ledo, Joaquim Nabuco, Euzébio de Queiroz, Deodoro da Fonseca e outros que, embora não sejam brasileiros, têm a sua importância na História do Brasil, como Dom Pedro I. Nestas listas de ilustres maçons brasileiros, costuma aparecer a figura do parnaibano Simplício Dias da Silva.

Simplício Dias da Silva (Vila São João da Parnaíba, 2 de Março de 1773 – Vila São João da Parnaíba, 17 de Setembro de 1829), foi um rico fazendeiro que dominou a vida política e económica da Vila de São João da Parnaíba, presidente da província do Piauí, figurando entre os ilustres maçons brasileiros, citado no Livro Maçónico do Centenário de 1922.

Simplício Dias da Silva, refinado jacobino e pedreiro livre, sob o piso da Loja Maçónica Independência, na vila de São João da Parnahiba. Imagem do Almanaque da Parnaíba. Placa do Museu do Ipiranga, São Paulo, SP.

Placa de bronze colocada na parte externa da Capela do Santíssimo Sacramento na Catedral de Nossa Senhora Mãe da Divina Graça, Parnaíba, Piauí, por ocasião do 1º centenário da morte de Simplício Dias da Silva, em 17 de Setembro de 1929.

Simplício Dias da Silva, refinado jacobino e pedreiro livre, sobre o piso da Loja Maçónica Independência, na vila de São João da Parnahiba. Imagem do Almanaque da Parnaíba. À direita, frontispício do livro Cartas sobre a Framaçonaria, de Hipólito José da Costa, Londres, 1805, mas declarando-se falsamente Madrid.

Com a criação, no Rio de Janeiro, da sociedade secreta Apostolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros da Santa Cruz, em 2 de Junho de 1822, Dom Pedro foi o seu Grão-Mestre. Com o pseudónimo de Guatimozim, o último imperador asteca morto pelos espanhóis, quis mostrar alma americana. Do seu legado maçónico destaca-se o Hino Maçónico Brasileiro, para o qual escreveu música e letra. Amante dos franceses ilustrados, Simplício Dias, se deu o nome simbólico de irmão Filósofo Pensador; José Francisco de Miranda Osório, Tapuia Independente, como Mandu Ladino, o índio guerreiro das matas piauienses. Todos se comunicavam com os seus devidos codinomes. Em Prosa Poesia Iconografia, diz Rubem Almeida: “Seria que Bonifácio confidenciasse, em ambiente francamente hostil, difícil missão guerreira ao Juiz-de-fora João Cândido de Deus e Silva e ao Coronel Simplício Dias da Silva, assim como delicado papel de guarda dos segredos”. José Bonifácio atendia aos irmãos maçons, como Tibiriçá, o primeiro índio a ser catequizado pelo padre José de Anchieta.

O Decreto de 19 de Junho de 1822 declarou Dom Pedro Imperador Perpétuo do Brasil e Dom João Imperador dos Reinos Unidos de Portugal, Brasil e Algarves. Foi esse decreto que movimentou os parnaibanos, que o receberam com júbilo. Já em Agosto de 1822, o Brasil era considerado independente pelos irmãos liberais. Em 1° de Agosto de 1822, Dom Pedro assinou manifesto redigido por Gonçalves Ledo com notável trecho: “Não se ouça entre nós outro grito que não seja União! Do Amazonas ao Prata não retumbe outro eco que não seja Independência!”

O dia 12 de Outubro de 1822 foi escolhido pela Maçonaria para aclamação pública de Dom Pedro como imperador, data que todas as lojas maçónicas deveriam proclamar a Independência. No Rio de Janeiro, no Campo de Santana, cerimónia sagrou Dom Pedro Imperador Constitucional do Brasil. Algumas vilas respeitaram o secretamente combinado. Mas, já se passavam seis dias, e nas reuniões da Casa de Câmara da Parnaíba, os patriotas não chegavam a um acordo. Simplício Dias da Silva, retomando o controle da vila, e a frente das tropas de 1ª e 2ª linhas, exigiu que fossem respeitados os ofícios de José Bonifácio. No dia 19 de Outubro de 1822, com os patriotas no Paço da Câmara, diante das tropas perfiladas, foi proclamada – “a Regência de Sua Alteza Real, a Independência do Brasil, e a sua União com Portugal, e as futuras Cortes Constituintes do Brasil”. Com uma salva de tiros da artilharia e o repicar dos sinos, o povo se manifestou em calorosas aclamações. Assim, a vila da Parnaíba lançou o clarão que iluminou o Norte para as lutas em prol do Brasil.

No dia 23 de Outubro, o Senado da Câmara da Parnaíba comunicou a sua Proclamação a Campo Maior e convidou esta vila a aderir à causa do Brasil. Mas, o Piauí e o Norte do Brasil eram estruturas secundárias portuguesas. O Pará, primeiro a aderir à Revolta do Porto de 1820, recebeu como prémio o estatuto de Província de Portugal. Agora, todos contra a Vila da Parnaíba. A Junta do Maranhão lançou manifesto dizendo que o povo não se deveria deixar seduzir com a independência, pois nenhuma relação tinha com o Sul do Brasil. As três províncias, Piauí, Maranhão e Pará, firmaram pacto de ajuda mútua, enviando tropas para Parnaíba, com o fim de sufocar o movimento emancipacionista. De Oeiras, veio o sargento-mor João José da Cunha Fidié e tropa de 1500 homens. De São Luís, navios de guerra. Não podendo combater esta força militar, e evitando inútil derramamento de sangue, os patriotas parnaibanos passaram estrategicamente para o Ceará, já praticamente ligado ao Brasil, pudendo desfrutar confiança.

Ao chegar à Parnaíba, Fidié fez prisioneira a família de Simplício Dias, que foi ameaçada de morte. Fez a Câmara da vila, renovar juramento à Constituição portuguesa. Os bens do senhor da Casa Grande, incluindo as oficinas e navios, foram destruídos e queimados. Fidié fez-se dono da casa do sítio da Ilha Grande de Santa Isabel, e com o gado, antes destinado à produção de couro e charque, alimentava o seu exército. O major Bernardo Antônio Saraiva e a sua cavalaria, denunciados pelos portugueses da vila da Parnaíba como partidários brasileiros, foram deslocados exemplarmente para Oeiras, facto que Fidié reconheceu, depois, como grande erro estratégico. Lá na capital, o regimento parnaibano passou as luzes da Independência, e colaborou para a adesão do Piauí, à causa nacional.

No Ceará, o juiz-de-fora João Cândido de Deus e Silva, Simplício Dias da Silva e os demais patriotas negociaram a vinda de tropas, em socorro ao Piauí e ao Norte do Brasil. As primeiras tropas vieram, para o Piauí, comandadas por Leonardo de Carvalho Castelo Branco e José Francisco de Miranda Osório, um contingente de 600 homens. Cruzaram a Serra da Ibiapaba, e no dia 22 de Janeiro de 1823, tomaram a freguesia de Piracuruca dos portugueses. Dois dias depois, Leonardo leu extenso e vibrante termo de Proclamação onde dizia que “Um pé de exército de quatro a seis mil homens vai fazer o mesmo em Campo Maior; há mais um corpo de observação para conter o inimigo, a quem inquieta com contínuas correrias pela costa” [grifo nosso]. A campanha militar pela independência do Brasil já se tinha iniciado no litoral piauiense, muito embora o grito pela independência do Brasil, O Grito do Ipiranga, por D. Pedro I, se tenha dado posteriormente, a 7 de Setembro de 1822.

Alexandre Fortes, 33º – CIM 285969 – ARLS Cícero Veloso n° 4543 – GOB-PI

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